O poço de Campaná, de Fred Góes
02.07.2012 - Livro
Sobre o livro
O poço de Campaná parece ter nascido de um filme de Fellini.
Humor, leveza e lirismo atuam com desenvoltura neste livro, compondo
um clima onírico surpreendente. É o caso do conto “A tipoia”,
que revela um tom absurdo e surrealizante.
Fred Góes também recorre, na ficção, à perspectiva dos cronistas:
é quando aproveita cenas pitorescas, as quais, na maior
parte das vezes, surgem do cotidiano da cidade para dar vazão ao
imaginário. Trata-se aqui de um aspecto muito comum ao percurso
histórico da literatura brasileira e, nesse sentido, o autor é respeitoso
com a tradição, fazendo-lhe altíssima honraria pela qualidade
inquestionável de seus contos.
Porém, de outro lado, Fred carnavaliza a perspectiva típica do
cronista, como em “O galo da lagoa”. Nesse conto, o personagem-
-narrador afi rma que, enquanto caminha, está sempre devaneando,
“contemplando a paisagem, mas longe, muito longe em pensamento”.
Dessa maneira, o olhar do cronista, perspicaz para o fato extraordinário
que desponta do cotidiano mais trivial, não devaneia a partir
do que observa, mas observa a partir do devaneio. O imaginário então
ganha mais força, abrindo espaço para algumas características
muito presentes neste livro, como a comicidade, exagero, extravagância
e insolência, que se alternam com a compaixão, fragilidade
e ternura.
Em O poço de Campaná, Fred Góes consegue reunir histórias que
servem de exemplo de uso habilidoso das técnicas de composição dos
contos, bem como da capacidade de reformular algumas dessas técnicas.
Mas não é apenas de técnica que se trata. O poço de Campaná é
sobretudo um manifesto a favor da alegria e da transgressão.
Sobre o autor
Fred Góes nasceu no Rio de Janeiro, em
1948, num domingo de carnaval. É professor
da Faculdade de Letras/UFRJ, onde lidera,
com apoio do CNPq, o Grupo Interdisciplinar
de Estudos Carnavalescos. Realizou
a pesquisa de pós-doutoramento na
universidade de Tulane, em Nova Orleans,
Estados Unidos da América, com bolsa da
Fundação Rockefeller. É compositor, letrista,
contista e ensaísta. Tem músicas gravadas
por inúmeros artistas. Entre os dez livros
de sua autoria, destacam-se O país do
carnaval elétrico (1982), 50 anos de trio
(2000) e Antes do furacão: o Mardi Gras
de um folião brasileiro em Nova Orleans
(2008). Organizou a antologia Brasil, mostra
a sua máscara (2007), que reúne contos,
crônicas, letras de música e poemas sobre
o carnaval brasileiro. O poço de Campaná é
seu primeiro livro de ficção.